Curadoria Renato De Cara
Artistas no acervo
Artistas convidados
"A natureza incuba a metáfora da forma e tresnatura formas em morfose"
Haroldo de Campos
Em continuidade à poesia das paisagens e passagens - proposta pela curadoria de Jurandy Valença na primeira exposição comemorativa dos 50 anos da Fundação Mokiti Okada (FMO), no primeiro semestre de 2021 - seguimos agora olhando à procura das representações dos ventos e suas manifestações na natureza, seus efeitos no ambiente, nas cores da atmosfera e suas operações funcionais na manutenção da vida.
Desde o início da pesquisa, em contato com o acervo (formado no Salão Brasileiro de Arte, que a FMO promoveu na década de 1980), notou-se a profunda relação que a cultura oriental mantém com as estações do ano e suas particularidades climáticas: vemos a pulsão nas oscilações de temperatura e as luzes que destacam ou escondem os elementos. Assim como as transformações no decorrer do tempo, o desequilíbrio provocado pela humanidade em seus ciclos nos atualiza diante dos argumentos. Elaboramos então uma narrativa onde vemos não apenas uma repetição esvaziada da exuberância das formas e das cores das paisagens, mas também uma perspectiva da passagem deste mesmo tempo nas representações escolhidas.
Dado o momento de incerteza pelo qual passamos, a exposição insiste nesta procura renovada, pelos olhares dos artistas elencados. As obras do acervo são postas em diálogo com uma variada produção visual atual, tanto no suporte como nos autores: autodidatas ou acadêmicos, do oriente e do ocidente, oriundos de regiões e gerações distintas. Destacam-se as mensagens e particularidades encontradas em variadas proposições.
Apresentando uma seleção múltipla, balanceada pelos climas e por certas representações do invisível vento, constrói-se uma narrativa para a mostra. Nas formas e nas técnicas, os artistas se deixam levar pela brisa e pelos encantos naturais. Detalhes, texturas, mitos e símbolos de cada estação. Sombras, volumes e os tons das luzes girando com o sol. O vermelho alaranjado e a intensidade do verão; o azul do inverno e o tempo de hibernação; o período fértil das flores na primavera; os tons terrosos da colheita do outono.
Entre os suportes - pinturas, gravuras, esculturas e fotografias, procuramos criar uma profusão imagética para o passado, o presente e o futuro. As obras podem ser abstratas, figurativas, ingênuas, explícitas, enigmáticas, oriundas da cultura erudita ou popular - destes cruzamentos na construção dos signos, entre tradições e provocações, entendemos um modo de pensar a arte contemporânea.
Para continuarmos a habitar o planeta temos que atravessar uma tomada de consciência e recuperar o vínculo com a vida. Mesmo cheios de dúvidas, seguimos equilibrando formas na harmonia das referências naturais que ainda podemos desfrutar. Dos fenômenos, a vida que ainda pulsa; as flores que nascem e as folhas que caem; a terra encharcada de água, a pedra lavada; o sol e a lua e as estrelas no céu. E nós aqui, presenteados pela magnitude divina, enfrentando como podemos os desafios das intempéries.
Renato De Cara
Agosto de 2021
Sei Shônagon
O livro do travesseiro, Editora 34
"Da primavera, o amanhecer. É quando palmo a palmo vão se definindo as esmaecidas linhas das montanhas. E no céu arroxeado tremulam delicadas nuvens.
Do verão, a noite. Em especial, os tempos de luar, mas também as trevas de vagalumes entrecruzando-se em profusão. (...) A chuva também é igualmente bela.
Do outono, o entardecer. São os momentos do arrebol, da tarde, em que o sol se acha prestes a tocar as colinas, quando se tornam comoventes os corvos que se apressam para os ninhos. (...) O sol já posto, melancólico, soa o ciciar do vento e o canto dos insetos.
No inverno, o despertar. Indescritível é com a neve caindo, e nele incluo a ofuscante brancura da geada. (...)
O sol já nas altura, e o frio mais ameno, não nos cativa mais a brasa já quase tornada cinzas no braseiro portátil."
Período: de 09 de novembro de 2021 a 11 de fevereiro de 2022
Visita presencial: 2ª, 4ª e 6ª feira, das 10 às 16 horas (fechado no finais de semana e feriados).
Agendamento: Clique aqui, pelo e-mail: culturaearte@fmo.org.br ou telefone: 5087.5056 / 5086
Endereço: Rua Morgado de Matheus,77, Vila Mariana, São Paulo (SP). Próximo ao metrô Ana Rosa.
Entrada: Gratuita
Exposição organizada pelo setor Cultura e Arte, da Fundação Mokiti Okada, e segue todos os protocolos de saúde e segurança.